11 de abril de 2010

Para elas

Como é que eu vou te explicar que não se trata de Enfermagem?
Como é que eu vou te explicar que não se trata de Psicologia?
Como é que eu vou te explicar que não se trata de Jornalismo?
Como é que eu vou te explicar que não se trata de Teatro?

Como é que eu vou te explicar que há mulheres que nasceram com vontade de escrever no alto de uma montanha fria tomando uma xícara de cappuccino?
Como é que eu vou te explicar que há mulheres que nasceram para entender a alma das crianças?
Como é que eu vou te explicar que há mulheres que nasceram para tornar a palavra, coisa dita?
Como é que eu vou te explicar que há mulheres que nasceram com vontade de mundo?

E como é que eu vou te explicar que todas são uma? E uma... São todas.

Como é que eu vou te explicar o sagrado que acontece na primeira vez que se entra na Livraria Cultura do Conjunto Nacional?
Como é que eu vou te explicar o sagrado que acontece quando se aprende ballet?
Como é que eu vou te explicar o sagrado que acontece nos momentos posteriores à entrevista com o Rodrigo, aquele, o Amarante?
Como é que eu vou te explicar o sagrado que acontece, quando depois de uma peça, tudo vira silêncio e calma?

Como é que eu vou te explicar que são nesses momentos que não há necessidade de explicações?
Ah! Mas como é que eu vou te explicar isso?

Como é que eu vou te explicar que para adquirir a sabedoria de não saber nada, é preciso antes, saber tudo?

Como é que eu vou te explicar que não é capricho?
Como é que eu vou te explicar que se trata de uma raridade?
Como é que eu vou te explicar que se trata da alegria difícil de se conhecer?
Como é que eu vou te explicar que se trata da força incomensurável de não se render?
E como eu te explico que eu mesma, pareço deixar escapar essa força?

Como é que eu vou te explicar que não se trata de Deus?
Como é que eu vou te explicar que se trata do que acontece no anoitecer da Avenida Paulista?

Como é que eu vou te explicar que é sobre construir e fazer manutenção de um modo específico de estar e se colocar na vida?

Como é que eu vou te explicar que a vida, a Vida mesmo - e não essa coisa mal acabada e dolorosa e suja e difícil e oca que a maioria das pessoas diz que "vai levando"...
Como é que eu vou te explicar que A Vida é exatamente isso que eu não consigo te explicar?

11 comentários:

PatRRicia disse...

e precisa mesmo explicar tudo pra cada uma delas?

(desculpe o comentário breve mas é que ainda estou sem palavras)

Andy disse...

Vc é mesmo de uma sensibilidade inigualável! Sem explicar, vc conseguiu explicar que não é necessário explicação... Vc é maravilhosa e estou com muita saudade da sua companhia diária!
Te amo! Beijos...

Tamyshg disse...

É lindo, é perfeito e é, como vc mesma disse, inexplicável.

.mila alves. disse...

E como vou explicar o que sinto agora?

É tão maior que as idas a Paulista, os desejos de café da varanda e as palavras escritas.

Cauê Gimenez disse...

E como é que vou explicar a grande alma que é você?

Saudade. :)

Unknown disse...

Num entedi!! dá pra explicar??? ihihihihihiii mtooo bom Ba...

Thiago Schiefer disse...

Nem tente explicar. Certas coisas a gente não explica - ou o outro sabe, ou vai ter que descobrir sozinho, ou vai ficar te perguntando toda vida sem perceber que não vai conseguir uma explicação fácil e racional...

Meggie disse...

Bá, essas perguntas são alfinetes quentes rasgando a nossa cabeça não?! Mas, eu já entendi... Não adianta esperar, eles nunca vão embora. E são eles que nos fazem sentir a vida! Somos sortudas, afinal.
Te entendo completamente.

Camila Blanco disse...

Entender que aquilo que parece inexplicável só pode se fazer entender pela negação da explicação é de uma sutileza quase inatingível. Organizar as próprias ideias ao tal ponto de se fazer compreender por qualquer ser alheio a nossa mente é ainda mais difícil, por isso torna-se tão admirável. E você o fez brilhantemente. Obrigada por compartilhar esse texto.

Talita disse...

Eu vi você em cada um desses questionamentos!

Fran Carneiro disse...

Precisa explicar?
Particularmente, acho que certas coisas não se explicam.