No meu caminho existiram as noites de 26 e 27 de Junho de 2010. E nessas noites, eu não tive medo. Nessas noites, em cima do palco ou fora dele, eu fui feliz. Dessa vez, consegui conquistar a preciosidade de perceber a felicidade enquanto ela, de fato, acontece. Percebi a tempo. No tempo. E não havia medo em mim. Havia sim, a minha verdade. A verdade que me é e que construí pra mim. A verdade é o que nos lança na vida. É o que faz a vida se movimentar em nós.
Nessas noites, a Vida Mágica se abateu sobre mim com tamanha doçura, e eu... Me deixei ser tomada por ela. E então, entendi a alegria: esperar, na coxia, o soar do terceiro sinal e... Ir. Sentir seus amigos juntos com você e você junto deles. Cada um salva-vidas do outro. E simplesmente ir.
E eu, do lado de fora, exposta por dentro.
É com toda modéstia de estudante de teatro e de pessoa de 22 anos que digo isso, mas creio que no palco, e também na vida, expomos o temos dentro. E temos dentro o nos fazemos, o que escolhemos ser. É que não há outra forma. Entende?
Nessas noites, eu expus o meu desejo inquebrantável para a Vida e Ela sorriu pra mim e me estendeu os braços. A Vida me aplaudiu e beijou o dorso da minha mão. E eu a reverenciei com todo meu corpo.
Eu e todos os estudantes naquele palco, criamos algo inédito em nossas vidas. E não há valor mensurável para esse feito. Criar o novo é de tal ousadia e de tal liberdade! E ao mesmo tempo é o único meio da Vida Potente acontecer para nós, em nós.
Nessas noites, eu me fiz aquilo que sempre quis ser: Tornei-me o que sou ao mesmo tempo em que fui o que serei. O teatro foi um dos lugares dentre os quais mais me reconheci. Por escolha e por impossibilidade de ser diferente. O teatro só funciona pra mim e em mim, se eu for verdadeira, se eu não fingir, se eu não "representar", porque no teatro tudo é o que é. Pra mim, não há outra forma de ser outros a não ser esta: ser a si mesmo. Não sei se quero descobrir outra maneira de ser feliz.
No teatro, a vida ferve, e o que é vivo grita. E quando a cortina fecha, as lágrimas vêm coroar a liberdade de um abraço entre artistas. Um coração que reconhece o outro.
Viver o próprio sonho e de magnitude incompreensível até mesmo e principalmente para si. Se fazer nascer. Como desejo isso para todos os que amo!
Nessas noites, eu e meus amigos de palco, vivemos Fernando Pessoa: fomos grandes, porque fomos inteiros.