25 de maio de 2008

E foi assim que numa quase-manhã, a vida me atingiu de novo...

Ontem, eu estive na iminência de escrever um texto, que muito provavelmente seria bem parecido com este.
Não escrevi. Deixei a sensação de iminência passar. Mas de certa forma, ela não foi embora.
Eu dormi, acordei e minha cabeça permaneceu reverberando muitas frases soltas, que agora, escrevendo esse texto, eu tento juntar.


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Cada dia que passa, eu me reparo mais. Nem sempre é para o bem, mas... No dia de hoje, é. Eu reparo que eu sei de coisas. Eu sei de coisas que eu ainda não consigo verbalizar. Eu sei de coisas que eu ainda não consigo transmitir, eu sei de coisas que eu ainda não consigo praticar. Mas eu sei. E sei que sei.
E a cada dia que passa, eu reforço minha “opinião” de que as pessoas já nascem sabendo o segredo de suas próprias vidas. A chave que falta pra abrir determinada porta, a cor que falta pra completar a aquarela, a flor que falta no “jardim imperial”, o pensamento que falta pra razão, o sentimento que falta pra verdadeira e profunda realização... Mas esse saber, vai se perdendo dentro de nós mesmos.
As pessoas têm o segredo das próprias vidas, mesmo que não consigam verbalizar, transmitir, praticar.
Não se trata de palavras e atitudes não serem suficientes para uma possível verbalização, transmissão e prática. Não se trata saber nomear sentimentos e ações, e apenas não contar pra ninguém sobre isso. O saber do qual eu falo passa longe disso, justamente e exatamente porque é um saber sem forma.
Não tem forma de palavra, não tem forma de discurso, não tem forma de movimento. É uma coisa mais profunda, uma coisa interior, que só com certa delicadeza se consegue perceber (e esse feito já é por si só glorioso), fazendo com que ele se irradie dentro do peito. E mesmo que tal percepção não venha à tona... Ele está lá. Ele existe. Ele É.
E por isso, saber o segredo da própria vida acontece com sutileza, acontece no silêncio de uma noite em que se contempla pela janela, um céu intensamente bonito.


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Sempre que vai chegando meu aniversário, eu tenho certas reflexões. Às vezes sobre o tempo, às vezes sobre mim, às vezes nem sei sobre o que.
Ontem, quando a frase: “Nossa! Meu aniversário está chegando!” se concluiu na minha mente, eu fui estranhamente acometida por uma sensação de gratidão carregada de bem-estar.
Ouvindo Corinne Bailey Rae, eu senti suspiros. E no exato momento seguinte, fora adorável e inevitável que meu pensamento repousasse em duas pessoas: Tamiris e Milena.
E eu me senti grata não só pelo clichê “Obrigada por tê-las em minha vida.”, como também por tudo o que eu vivi com elas. Por todos os momentos de alegrias e lágrimas que elas gentilmente e envolvidamente compartilharam comigo. Por terem aberto suas casas e seus mundos pra mim.
E aí... eu pensei em mim. Pensei nas mudanças que eu passei entre os dias 25 de maio de 2007 e 25 de maio de 2008.
Pensei na pessoa que eu me tornei e... E vi que sem elas não daria pra contar o que eu chamo de “minha história”. Vi que sem elas, faltaria um pedaço de mim.
Elas me ensinaram a chorar com declarações, a ter conversas sinceras e momentos de um incrível e acolhedor silêncio, me ensinaram a perceber a simplicidade que existe na realidade, a sentir auras e contar sonhos.
Elas me ensinaram a aprender.
Aprender que o amor, nada mais é do que uma verdade. E que a verdade é um exercício. A Tami e a Milili, são simultânea e reciprocamente a minha sensatez e a minha abstração.

Elas são a minha música.

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Nesse aniversário, eu escolhi fechar um ciclo e começar outro novo.
Decidi terminar minhas leituras, finalizar os textos que estão incompletos numa folha de fichário, escondidos entre os papéis da minha mesa. Decidi doar resoluções a lembranças.


Uma vez eu escrevi que o começo estava em nenhum outro lugar a não ser dentro da gente.

Hoje... Eu comecei de novo.

18 de maio de 2008

Das lembranças que não tenho...

"Meu amor...
O que você faria se só restasse esse dia?

Se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria."



E foi respondendo a um scrap de um amigo que eu percebi que faz tempo que não me sinto querida. Foi assim que me deparei com a minha carência que há um tempo eu venho tentando esconder de mim mesma. Eu tenho uma forte tendência a achar que o problema das coisas sou eu. Que o meu problema sou eu. Assim, eu, "logicamente" e normalmente tento encontrar as minhas respostas, sozinha. Não é o caminho mais fácil. Mas... Quem foi que disse que um dia eu fui, de fato, inteligente?

Eu sinto falta de ouvir a palavra saudade carregada de sinceridade. E sinto falta de falar a palavra saudade carregada de sinceridade. Eu sinto falta de abraços quentes de pessoas que eu gosto. Eu sinto falta de sentir que os abraços que eu recebo são quentes.

Hoje, uma amiga me ligou. E depois que eu desliguei eu me senti feliz. Eu olhei pela janela e vi que o dia estava bonito. Foi como se a vida tivesse me atingido de novo. E por momentos eu apenas deixei.

Faz um tempo, eu venho me lembrando da vida que nunca tive.

Às vezes eu incorporo a vida e os meus sonhos de forma difícil. E as imagens são tão claras que até me dói o coração, denotativamente falando. O peito fica pesado e é como se eu fizesse força pra respirar.

Eu sinto tanta falta de me sentir parte de alguma coisa. Eu sinto tanta falta de me sentir parte de mim.

E essa parte de mim que morre, que me deixa um réquiem de uma quase tristeza....

Esses dias eu tornei a ler Clarice e encontrei certa coragem em mim. É necessário coragem para deixar. É necessária muita coragem para deixar-se.
A permissão é uma arte.

Lendo, eu pensei que talvez eu esteja, pouco a pouco, pelo menos tentando ter essa coragem. Essa coragem de deixar que o que eu venho sentindo durante esses dias quase ininterruptos, tome uma forma própria, e não uma forma que eu desejo. Na verdade, eu acho até que já adquiri certa coragem de não desejar impor uma forma a esses sentimentos. E não foi fácil.

Às vezes, a vida que eu nunca tive me vem suave. Como uma brisa com odores quentes e cores aconchegantes.
E tudo parece... Suspiros.

E até a simples ação de piscar, se torna um ato bonito.


"Meu amor...
O que você faria se só restasse esse dia?
Se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria."


15 de maio de 2008

Outono

Ai...

...

Sabe...

Às vezes eu gosto de sumir.
Sabe aquela coisa de.. "se perder pra se encontrar". Então...
Eu acho que ainda estou perdida... E acho também que esse texto não é uma tentativa de auto-encontro. Não dessa vez.
Eu tive vontade de conversar sobre tudo com pessoas que eu nunca vi. Ter sensação de um começo novo de mim mesma.

Às vezes, eu sinto que muitas pessoas que eu conheço se perderam de si mesmas. Pode ser um olhar preconceituoso, egocêntrico, altamente errôneo.. Mas às vezes eu sinto isso. E é bem ruim.
É porque eu... por mais que esteja perdida, eu sei que eu estou perdida e sei que eu vou encontrar. Não sei o que. Não sei se sou eu mesma, se é um peixe, uma folha, uma cor, mas eu vou encontrar... Mas existem certas pessoas pra quem eu olho e... eu sinto que elas não estão mais ali. E nem sabem que não estão mais ali.

Sabe quando você olha pra uma pessoa, olha, olha, olha e não a vê? Você olha, mas tudo o que se tem depois desse olhar é um não-reconhecimento. Aí eu penso... "Será que sou eu que mudei tanto? Que estou colocando as pessoas numa coisa que eu acho que elas deveriam seguir ou... será que nem elas se reconhecem mais?"
Eu acho que a última opção fala mais forte dentro de mim, às vezes. E às vezes também... eu tento fazer com que ela se cale.

As pessoas passam.
Passam por tudo e passam por nada. Passam por sofrimento, passam por alegrias, se frustram, criam coisas...
As pessoas se passam por si mesmas. Não é tão simples ser o que se é. E eu não estou me excluindo disso.

A verdade é que todo mundo morre um pouco.


É que hoje, eu olhei pra uma foto minha e me reconheci. Me reconheci com tudo o que é meu. Minhas auto-cobranças e meus acertos, minhas pulsões e meu retraimento tão marcado. Reconheci meu nome e meus olhos. E existe um certo silêncio nisso. Um silêncio cálido. Um silêncio que preenche.



Hoje... eu me olhei... e me reconheci.
E você?