31 de outubro de 2009

(m)eu ar.

Eu conversei com ele por algumas horas em um café.
Depois, fui ao teatro com alguns colegas e foi saindo daquela peça que assistia pela segunda vez, depois daquela hora e meia de verdades docemente escancaradas, que uma das minhas verdades ocorreu pra mim como uma luz na escuridão:

Entendi a solidão.

Depois de ter passado algumas horas com aquele que mais amei... Meu primeiro amado "ele". Aquele que um dia eu senti ser o homem da minha vida.
Ele, que me deu a imagem daquilo que eu levava dentro, havia mudado... Ele havia mudado... E eu que já havia criado a coragem forte para assumir e retirar dele, as minhas projeções... Eu, que também havia mudado, olhei para aqueles olhos com os cílios mais encantadores que já vi e... Não me vi.
E foi assim que eu entendi que ele não estava mais comigo. E isso não se tratava de um sentido amoroso, pois é bem verdade que eu havia concluído o processo daquilo que, na psicologia chama-se de "elaboração do luto", dele em mim, na penúltima vez que nos vimos no meu local sagrado da Avenida Paulista, entre livros e histórias. Já há algum tempo que eu sabia que ele em mim, era gratidão.

Porém, desta vez era diferente. Não havia desamparo. Havia só... Certa estranheza, um cambalear leve.
Com quem eu iria conversar sobre Nietzsche? Com quem eu iria conversar sobre a minha concepção de amor livre? Sobre as verdades que aprendi a dizer? Com quem eu iria poder compartilhar meu desejo de ser uma pensadora, de ser "livre e soberana"? E agora?
Olhei pro lado e não havia ninguém.
E eu entendi essa solidão, que me foi uma solidão não-dura, não-triste, concretamente viva.
Constatadora de mim.
E não posso deixar de registrar aqui que se assemelhava muito a uma espécie de autonomia.
E de repente me veio a exata sensação se ser do tamanho de uma cidade.
[Pra mim, as sensações são as melhores consciências.]
E nesse momento, eu cambaleei como cambaleia alguém de quem é retirada uma terceira perna. A clariceana terceira perna.

Eu olhei pro lado... E só tinha à mim.
E assim, eu enxerguei, com toda luz, a minha verdade: Eu, agora, dentre as pessoas que conheço, era a pessoa mais próxima daquilo que um dia quero ser... Aquilo que por muitos momentos, eu já havia me feito.
Ele ou a lembrança dele, era como um ar, do qual eu podia respirar quando estivesse afogada. Agora... O meu ar era eu.

E na madrugada do mesmo dia, ouvindo Beirut... Eu, sorrindo, dancei sozinha no meu quarto, pra celebrar alguma coisa que levo no coração e que terei a coragem de não nomear.

13 de outubro de 2009

Eu estou com tanto medo!

[Por favor, Deus.... Me abraça nessa hora.]

4 de outubro de 2009

Das coisas não reveladas ao telefone

Tinha imaginado coisas:

Iriam se encontrar no fim de semana e sem dizer uma palavra se quer colocaria um dos fones de ouvido em sua orelha esquerda. Estenderia o outro para ele, parado à frente dela, para que ele colocasse em sua orelha direita.
Ela faria então com que tocasse de seu celular, a música que ele revelou gostar, enquanto estava deitado nas pernas dela, na última vez que se viram.
Repousaria sua mão direita na nuca dele e aproximaria-se, fazendo com que os narizes de ambos se encontrassem.
Fechariam os olhos.
E dançariam...
Lentamente...
Em uma das esquinas da Avenida Paulista.
Ao final da música, ela diria baixinho: "Meu arranjamento pra você."



Mas acontece que nela, o saber de que '"Quando se quer, verdadeiramente, se faz" era puro, doce e real de mais... Não o trocaria por um punhado de palavras bonitas que ela mesma admitira querer ouvir.
Para ela, não sustentar o próprio desejo é o mesmo que não desejar.

Foi então que fez-se ausência.

Pensou em brigar com ele: "Que formalista de merda você é! Olha a forma com que você deixa as coisas acontecerem!" Mas algo nela sabia que aquilo já não era mais preciso.
E essa ausência dela, nela, lhe trouxe lágrimas.

Terminou ao telefone contando a ele o fim de uma história de dança de mãos.