1 de abril de 2014

Isolda e o Oráculo .ou. Carta de amor

Escrevo porque ontem você me fez ser Isolda e eu te chamei de Amigo nos poemas medievais de amor que te escrevi.
Mas em breve, minha consciência reativa de mulher quase independente e contemporânea me forçará a conhecer outros homens como forma ilusória de fugir  e de preencher o tempo que fico esperando por você.

E o que eu menos gosto é de ter a minha vida nas mãos de outra pessoa. Mas, por agora, o que eu consigo fazer é torcer para você vir até mim. 

É escrever uma carta que você nunca lerá.

É o que eu, Isolda, consigo fazer. Olhar para o Céu com a quase certeza de se comunicar ao Incomunicável e... Esperar por você, meu Amigo, me lembrando das suas imagens específicas enquanto o meu coração pesa e aquece.

Eu torço.

Não levarei minhas mãos na tua direção. Ficarei quieta. É o que consigo fazer por hoje. Receio de ter se instaurado essa distância contemporânea entre nós. Este hiato absurdo de mais de 24 horas. 

Quero ficar em silêncio com você, à meia luz. E quero que você, de novo e repetidamente, afaste uma mecha dos meus cabelos e segure o meu rosto. E, por conseqüência involuntária, faça meu peito pesar e aquecer. 
Então eu ouvirei um som agudíssimo surgir dentro de mim. Como fazem aqueles bules antigos avisando que o café está pronto.

E se não for você o enviado que surgiu no meu Oráculo? E se não for eu a correspondente que surgiu na sua carta de Tarô? O que faremos nas derradeiras 21 horas, Amigo?
Se assim for, terei o ímpeto cada vez mais forte de embarcar numa nau e regressar aos meus no continente antiqüíssimo.

Mas por hora, eu fico aqui e finjo que consigo distrair minha ansiedade te escrevendo ou arrumando meu guarda-roupa. Mas enquanto que... Internamente... Eu só penso em Saturno, em Urano, em Netuno... E na sua voz... Amigo... E nas suas mãos. E nos seus pêlos...

Eu torço pela palavra Saudade pronunciada da tua boca.

Com afeto,
Isolda.

Nenhum comentário: