29 de dezembro de 2008

Brincar de Palavra.

Dias atrás, eu conversava com um amigo no MSN, sobre o fim de ano.
Sobre aquela sensação, meio melancólica. E ele disse algo a respeito de que "podia ter feito mais". Engraçado... Talvez por saber explicar essa sensação psicanaliticamente, ela já não me atinja, tão profundamente, como antes.
Em determinado momento, ele me desejou Feliz Natal e disse algo como: "O que tiver de ser será. O que não acontecer, não era pra ter acontecido". Eu respondi que acreditava nisso, mas que também acreditava "que quando se quer, a gente faz acontecer". Me senti... Ridiculamente hipócrita. Não que eu não acreditasse... Eu acreditava. Mas... Eu não me achava no direito de falar uma coisa daquelas. "Eu não faço as coisas que eu quero, acontecerem", pensei eu. "Sou muito medrosa pra isso". [Mas talvez, os dias posteriores a essa conversa, as coisas que pensei, senti, ouvi, falei, vivi... Tenham me feito... Repensar essa condição].

Em um outro momento, ainda conversando com meu amigo, não me lembro bem por que, soltei a frase: "Aquilo que podia ter sido e que não foi".
Depois de ver a frase escrita, na tela, e depois de tê-la enviado...
Me senti... Tola. Tola e falsa. Tentei descobrir o porquê da ultima sensação - aquela inusitada falsidade - visto que... Ao longo dos anos, tal frase tinha se constituído dentro de mim, como um clichê de fim de ano. Não obtive resposta.
Mas acho que agora, a tenho, dentro de mim.
Talvez esse ano, tenha sido "o" ano no qual eu não possa dizer isto. E isso, me assusta. Me assusta olhar pra esse ano e ver minhas verdades. Nesse ano... Eu fui tudo o que eu podia ser. Na realidade... Eu fui mais do que eu podia ser. Eu fui além dos meus limites em tantas coisas!
Nesse ano... Eu me desafoguei. Eu. Por meu esforço e mérito.
E é fato que dizer isso, me causa um desconforto. Uma sensação... Marrom. Uma dureza esquisita.
Nesse ano, eu fui tudo o que podia ser. [E essa é a resposta da minha inusitada falsidade]Na minha memória, nesse instante, passam todos os meus "feitos", que não vou elencar aqui... Por certa preguiça, certa privacidade, e por julgar que meus feitos pouco interessem aos leitores. Afinal, eles também têm os deles.

Nesse ano, eu tive sensações novas. Um pouco de desamor, se bem que ainda não tenho certeza se tal sentimento existe; uma solidão tão... Só. Um sentimento frio e branco. Como um montante enorme de neve, como um Alasca, só que mais triste; uma felicidade que só fui dar por mim que era felicidade depois que a tinha vivido, depois de me contaram que "tinham me visto feliz"; um cansaço forte que parecia tomar conta da minha alma...
Me arrependi de coisas que eu fiz, que falei. Na verdade, faz certo tempo que pratico, mas... Sempre me parece novo o ramo da vida, no qual se afirma arrepender-se do que fez e não daquilo que se deixou de fazer.

Eu não deixei de fazer nada do que eu tinha que fazer. Eu fiz mais do que eu podia. O que me faz pensar que eu posso mais do que achei que pudesse.

Mas não é com tranqüilidade que digo isso. Nem com orgulho. Já senti ambas as coisas e sei que não se trata disso. Trata-se de... Espanto. No seu mais... Cru sentido.

Me espanta perceber que eu fui mais que suficiente pra mim. Ou, pelo menos, me espanta que seja nisso que a maior parte de mim escolhe acreditar. Uma parte que me é tão diferente que... É um muro que tudo sabe. Uma montanha... Sábia e calada. É a parte de mim que é neutra, no glorioso sentido de Clarice Lispector.

O meu superego rígido me manda escrever que essa parte, é uma parte cega. E assim, não é capaz de ver as coisas que eu não consegui fazer. Mas essa minha parte montanha, somente olha pro meu superego e faz com que ele se sinta nu. Ela não precisa se defender ou atacá-lo pra mostra a ele, que é ela a detentora da verdade que ele se esforça, com tanto afinco, pra esconder. É como se fosse o diabo diante de Deus. O primeiro dissimula, esconde sua natureza, atrai com palavras que fazem sofrer... O segundo tudo sabe. Olha pro primeiro e desvenda, sem muito esforço, todas as suas peripécias malvadas. O diabo sabe exatamente o poder que Deus tem. E por isso tem medo. O diabo é parte de Deus. É criação Dele. O porquê disso, ainda não sei. Mas no fim... Só o que existe, é Deus.

Nesse ano eu fui tudo que podia ser. E não se trata aqui de... Pensamento positivo, de "o que não tem remédio, remediado está", "bola pra frente", "passado é passado", de preferir acreditar nisso pra não ficar triste com o que não foi, ou... Qualquer coisa semelhante. Eu não 'acredito' que eu fui tudo o que eu podia ser. Eu sei.
E isso me assusta. Me assusta não ter nada do que reclamar sobre mim mesma. Me assusta não ter nenhum tipo de ilusão de mudança de comportamento pro ano seguinte.
É exatamente por isso que eu tenho medo da felicidade. É como se ela fosse uma carga que eu não pudesse suportar. Eu não sei como é bancar o estado de ser feliz. Eu tenho medo dele.
Às vezes, a minha vida me parece incrivelmente maior e esmagadoramente mais forte que eu. A minha vida tem mais força do que minhas próprias força.

Talvez eu tenha cumprido as promessas que fiz pra esse ano. Talvez eu tenha virado uma “cumpridora das minhas próprias promessas” e, não tenha planos nem expectativas pro ano seguinte. Exatamente porque aquilo que eu posso imaginar que prometeria pra ano que vem... Eu fiz nesse.

[Acho até que começo a ver com poética o meu espanto e meu susto tão usados nesse texto. Talvez tenha começado a substituir essas palavras por... Beleza].

De uma outra coisa, também sei: Eu não quero mais brincar de palavra.
Eu quero ter a coragem de cumprir aquilo que digo. E quero a simplicidade e a sabedoria de dizer aquilo que sinto.
"Palavra, o vento leva", já diz minha mãe. E hoje, eu aceito.
Eu quero a concretização das palavras, a prática das teorias.
Não é que eu não queira as palavras. Eu sempre gostei muito delas e continuo querendo-as. Mas eu quero mais. Quero ações e atitudes acompanhadas das palavras.

Palavras são muito bonitas.. Mas mais bonito, é viver.

2 comentários:

.mila alves. disse...

E a palavra se fez um texto, lindo, cheio de informação e até um tico difícil de assimilar. Talvez seja, porque a palavra tenha hoje o mesmo significado pra mim, que o pra você. Ai.
Mas também, talvez tenha achado ele um pouco difícil de engolir, não pela verdade escrita, mas sim, por eu não ter feito exatamente tudo aquilo que sempre quis.
Se eu parar pra pensar, quase sempre tive medo, quase sempre pulei fora, quase sempre deixei pra lá os meus sonhos.
Mas eu não me arrependo das coisas que fiz, e também não me arrependo das que não fiz, só me arrependo de não ter me esforçado mais para fazer. Ai de novo.

Posso morar com você? Eu fico no sofá azul menor. Posso?! rs
Aaah e vivo de 'patum', sem nenhum problema!

... estou tentando me deixar acreditar. Porque, é esse o tal reino da alegria, né?

Alberto Pereira Jr. disse...

viver não é bonito. É único, indescritível Babu!

e se assombra pro ter feito e se superado só mostra o ser humano puro e genuíno que você é!

em 2009 o mundo vai lhe sorrir mais ainda

(L)