9 de novembro de 2013

Trindade

Hoje eu vou sentar aqui e não vou levantar até que alguma coisa nasça.

Eu decretei e porque eu decretei, será.
'No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. (...) E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua glória... '

Escrever não é se esconder.
Escrever é a libertação.
Gastarei todo o grafite.
E os calos aparecerão, se preciso for. Se preciso, dor.
Porque se apaixonar também é necessário. E é preciso seguir no fio de Ariadne. Porque aprendemos  a viver no desperdício de nós mesmos, sendo comedidos. Em tudo. Em todos.
Agora, os minutos são vampiros. E será que ainda levantaremos nossos braços, corajosos, hasteando coroas de alho? Ou ofereceremos nossa jugular para o Tempo e berraremos de dor como ovelhas lacanianas cheias de falta?
O que é que se vive, realmente, afinal? Há tanto Tudo no mundo! Que alegria grandiosa e escura, a abundância!

E eu tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil...
Eu, tantas vezes camelo, ovelha.
Tantas vezes escondida atrás da pilha de processos jurídicos, tutelas, requerimentos dessas migalhas que nos acostumamos a chamar de 'existência'.
Olhei o meu reflexo no vidro do metrô e o que eu vi?
Eu, algum dia, vim-me? Ou fui tão boa arquiteta na elaboração desta 3ª pessoa que apareceu no vidro?

O tempo nos estupra enquanto nos vigiamos em sermos comedidos.
Eu quero comer o tempo.
O que há atrás dessa pilha de caducados documentos jurídicos de proibições e de desautorizações que intermedeiam minha primeira superfície e o mundo?

Que se queimem todos os papéis!
Que o fogo seja infernal e queime todas as invalidações!

De agora em diante, minhas armas são o alho, o fogo e a fome.
Eis a Nova Trindade!

As minhas diferenciações, as fui perdendo pelo caminho e tornei-me esta 3ª pessoa comedida? As minhas verdades eram assassinadas por sufocamento de dúvidas, como quando se mata um bebê com travesseiros. Cruel e sorrateiramente.

Mas agora é chegada a hora do acerto de contas.
É chegada a hora da invenção do dia do juízo.


Alho, fogo, fome.

Hoje eu não levanto daqui até parir.